
A crise na Venezuela pode ser considerada o principal desafio da política externa de Lula 1, 2 e 3. O que está em jogo é a ameaça de o processo venezuelano descambar para uma situação de não retorno, qual seja, o apelo de Maduro aos militares que lhe são favoráveis e aos atores externos à região que reconheceram sua reeleição.
De todos os lados, predominam as críticas às incoerências da política externa de Lula 3 e aos perigos decorrentes da não condenação a Maduro. Uma das poucas exceções é o excelente artigo de Janaína Figueiredo, publicado no Globo, em 16/08/2024: “Mais do que propostas, Brasil lança balões de ensaio na Venezuela”.
Conforme Figueiredo, “com negociações travadas, Brasil e Colômbia buscam alimentar o debate com sugestões não concretas para evitar o surgimento de soluções fora da esfera política”. Abre-se, assim, a “possibilidade de contribuir para que a Venezuela não mergulhe numa guerra civil”.
A autora explica que, “enquanto nada de concreto acontece e as críticas pela demora de uma solução se intensificam, o Brasil mantém a bola rolando no campo de jogo”. Do contrário, “abandonar a Venezuela significaria, entre muitas outras coisas, abandonar o povo, que passa fome e, agora, sofre a repressão de um governo cada dia mais autoritário.”
A coluna completa pode ser lida aqui.
Em 28 de julho foram realizadas, na Venezuela, eleições para escolher o presidente do país pelos próximos seis anos. A campanha eleitoral foi marcada por denúncias de irregularidades, por parte da oposição, prisão de opositores, e por críticas internacionais. No dia 17 de julho, o atual presidente, Nicolás Maduro, afirmou que apenas sua vitória evitaria um “banho de sangue”. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ter ficado assustado com a declaração. Maduro, por sua vez, recomendou que quem tivesse se assustado com a fala tomasse um chá de camomila.
O pleito ocorreu em um domingo e teve participação de 59,97% da população (12.386.669 no total). Ocorreu um atraso na divulgação dos resultados, o que foi atribuído, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a um ataque de hackers. Por fim, foi anunciada a vitória de Maduro, com 51,95% dos votos (6.408.844 no total). Segundo o CNE, Edmundo González, o principal candidato da oposição, obteve 43,18% dos votos (5.326.104 no total).
O anúncio foi questionado pela oposição, que acusou o governo de fraudar as atas de votação e manipular o resultado. Segundo a oposição, González teria ganho o pleito com 67% dos votos. Os dias posteriores à votação foram marcados por manifestações violentas, sendo registradas 23 mortes e quase 1200 pessoas presas. O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, acusou a oposição de estar incitando um golpe de Estado e pediu a prisão de González e Maria Corina Machado.
No plano internacional, a vitória de Maduro foi reconhecida por países como China, Rússia, Cuba e Bolívia. Já a Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou não reconhecer o resultado divulgado pelo CNE. Na região sul-americana, Argentina, Chile, Peru e Uruguai não reconheceram o resultado e acusaram o governo da Venezuela de fraudar a eleição. Em reação, o país expulsou as representações diplomáticas desses países do território venezuelano.
O Brasil, por meio de nota do Itamaraty, declarou que aguardava a divulgação das atas da votação para se pronunciar. No dia 1º de agosto, Brasil, Colômbia e México divulgaram uma nota conjunta se oferecendo a mediar um diálogo entre Maduro e a oposição. Nesse mesmo dia, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, declarou que reconhecia a vitória de González.
Em carta divulgada no dia 5 de agosto, o candidato opositor se declarou vencedor e pediu o apoio das Forças Armadas. Em reação, Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, afirmou que abrirá uma investigação de González e Corina Machado. Por sua vez, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, se declarou leal a Maduro por meio de um comunicado.
Texto escrito por Thaís Jesinski Batista.